Em 1755, Lisboa foi devastada por um terramoto. Em 2025, perdeu um dos seus ícones: o Elevador da Glória. Só quem vive em Lisboa compreende verdadeiramente o valor deste meio de transporte, não apenas como atração turística, mas como parte vital da mobilidade urbana.
Os elevadores do Lavra, da Bica e da Glória são muito mais do que postais ilustrados. São ferramentas essenciais para quem vive, trabalha e estuda nas colinas da cidade. Em cada uma delas existem instituições de ensino, desde creches até universidades. São colinas de conhecimento, de infância, de futuro.
Enquanto o Marquês de Pombal, após o terramoto, proclamava: “Vamos enterrar os mortos e tratar dos vivos,” os políticos de 2025 parecem fazer o oposto: ressuscitam símbolos para propaganda e enterram as necessidades dos vivos. Não apresentam soluções para quem depende destes elevadores no dia a dia.
Durante anos, usei o Elevador do Lavra para levar os meus filhos à creche. Durante anos, subi na Glória para dar aulas, enquanto os meus filhos seguiam para a escola. Estes elevadores não são apenas carris e cabos — são memórias, rotinas, vidas.
As colinas que sustentam Lisboa
Colina de Santana: Conhecida como a Colina do Conhecimento, abriga creches, escolas a Faculdade de Medicina e vários hospitais.
Colina de São Roque: Onde se ergue o Bairro Alto, o Miradouro de São Pedro de Alcântara e instituições como o Liceu Passos Manuel. Uma colina de cultura e educação.
Consequências do encerramento dos elevadores
Mobilidade urbana comprometida Os elevadores ligam zonas de forte inclinação, como os Restauradores ao Bairro Alto (Glória) ou a Rua de São Paulo ao Largo do Calhariz (Bica). Sem eles, os percursos tornam-se mais longos, íngremes e inacessíveis para muitos.
Prejuízo para o turismo O Elevador da Glória é uma das imagens de marca de Lisboa. O seu encerramento afeta diretamente a experiência dos visitantes e o fluxo turístico em zonas históricas.
Pressão sobre a Carris A necessidade de alternativas eficazes recai sobre a empresa de transportes, que enfrenta o desafio de manter a cidade funcional sem estes meios.
Responsabilidade da Câmara Municipal A autarquia precisa de apresentar soluções concretas para evitar o colapso da mobilidade nas colinas e garantir acessibilidade para todos.
O encerramento do Elevador da Glória não pode ser apenas mais um episódio de indignação passageira ou de troca de acusações entre entidades. Lisboa precisa de respostas, não de culpados. A cidade exige soluções práticas, sustentáveis e inclusivas que devolvam aos seus habitantes o acesso digno às suas colinas, às suas escolas, aos seus hospitais e à sua história.
É tempo de unir esforços, ouvir quem vive a cidade todos os dias e agir com responsabilidade. Porque preservar a mobilidade é preservar a vida urbana. E Lisboa, com toda a sua beleza e complexidade, merece mais do que discursos: merece ação.
Elisa Manero