Este texto foi escrito em 2020
A Elisabete
A Elisabete é uma senhora de cabo verde. Tem 49 anos, 6 filhos tem 1,80 e trabalha nas limpezas. Eu encontrava a Elisabete no autocarro o 709. Eu apanhava o autocarro às 7:15 da manhã e a Elisabete já ia para o seu segundo trabalho.
Ficamos amigas, conversávamos de receitas, do Natal dos filhos. Eu entrava no autocarro e andava 4 paragens. A Elisabete só parava de trabalhar às 19h. Ficamos amigas porque um dia alguém começou a gritar com o motorista e eu mandei calar essa pessoa. O motorista do autocarro necessita de estar calmo disse eu, em voz alta mas calma com o meu tom militar.
A partir desse dia, eu passei a ser cumprimentada e a cumprimentar todas essas 30 senhoras que vinham de Sintra, do Seixal, dos arredores de Lisboa.
Os imigrantes trabalham, e cuidam dos seus filhos. Mas não votam, algumas não sabem ler. Não estão legalizadas e não votam. Apesar de trabalharem nem sempre tem acesso a uma habitação decente, os filhos não tem apoios mas trabalham.
Durante cerca de 3 anos, o meu dia iniciava no 709, todas as senhoras, os netos e o motorista eram a minha companhia durante perto de 20 minutos. E a Elisabete com
1, 80 e eu com 1,50 sentadas ou de pé tínhamos a nossa conversa, dos filhos e do tempo. Mais tarde, mudei de Escola, agora vou de metro. Nunca esqueci as senhoras do 709, nunca esqueci o sorriso da Elisabete, que apesar das suas dificuldades eram alegres e que me tentaram ensinar a fazer cachupa.
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