segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Nós, os Gordos! – Elisa Manero

 Nunca fui gorda na adolescência, mas também nunca fui magra com 18 anos. Pesava 50 Kg. 

Atualmente, como Professora, todos os dias vejo os meus alunos, alguns com excesso de peso, a beber sumos em vez de água, a comer doces e salgados, cheios de gordura, em vez da típica sandes. 

Ontem como hoje, os alunos com excesso de peso, são os que na aula de educação física vão para baliza, são os últimos a ser escolhidos nas equipas, são muitas vezes excluídos de forma mais ou menos intencional. O excesso de peso na adolescência também afeta o sucesso escolar, segundo a Tese de Doutoramento  defendida em 2017 “Desempenho escolar, atividade física, aptidão cardiorrespiratória e síndrome metabólica em crianças e adolescentes” de Tânia  Oliveira,   mas ainda assim não existem nutricionistas nos Centros de Saúde. Em Portugal continua-se a desvalorizar a prevenção e tratamento de doenças metabólicas. 

Quando chegam à idade adulta este fenômeno é mais impactante nas mulheres. O estigma social recai sobretudo sobre as mulheres. Ao olhar para uma mulher obesa, as pessoas pensam que se trata apenas de falta de cuidado.  Raramente se incluem outras causas para o estado de obesidade, como o excesso de trabalho, que têm dentro e fora de casa, da excessiva carga laboral, da falta de horários das refeições, assim como na parca oferta de refeições saudáveis nos restaurantes/cantinas. Quando têm filhos as noites sem dormir, também influenciam o metabolismo, o descanso ou a falta é importante para manter um peso adequado. A mulher obesa tem mais dificuldade em ter um trabalho. 

Em sentido inverso temos o excesso de peso no homem que para além de não ser tão mal-aceite socialmente ainda tem muitas vezes uma ligação ao sucesso. Um homem gordo é muitas vezes associado a um percurso de sucesso, de abastança. Não tem, por isso, efeito tão impactante na sua vida. 

Quando olhar para uma mulher obesa, antes de a criticar, pense que ela não tem tempo para cuidar de si, porque cuida dos filhos, da casa ou simplesmente não tem possibilidade de se alimentar convenientemente.

No 20 de Outubro de 2021, o Jornal Médico publicou um artigo com o título ” Excesso de peso e obesidade custam 1,2 mil milhões de euros por ano em Portugal”, a mesma fonte descreve: 

“O custo direto do excesso de peso e obesidade foi estimado em cerca de 1,2 mil milhões de euros, aproximadamente 0,6% do PIB e 6% das despesas de saúde em Portugal.

Estas são as principais conclusões do estudo “O Custo e Carga do Excesso de Peso e da Obesidade em Portugal”, divulgado hoje e elaborado pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE) e pela consultora Evigrade-IQVIA, com o patrocínio científico da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) e o apoio da Novo Nordisk Portugal.

Segundo o último Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF) do Instituto Ricardo Jorge, quase dois terços da população adulta portuguesa (67,6%) vive com excesso de peso (Índice de Massa Corporal (IMC) ≥ 25) ou obesidade (IMC ≥ 30), sendo que a prevalência de obesidade é de 28,7%.

O estudo mostra que as doenças relacionadas com a obesidade que mais contribuem para os custos diretos em saúde são a diabetes, o acidente vascular cerebral (AVC), a doença cardíaca isquémica (DCI) e a doença renal crónica (DRC).”

Muitos sabem que sou Nutricionista, inscrita na Ordem dos Nutricionista, e sou obesa, já perdi em 2 meses 6 kg e muito volume, a minha médica zangou-se comigo, eu estou a aplicar o que aprendi. 

Apesar do Governo ter implementado o cheque nutricionista, para alunos do Ensino superior, esta medida não é suficiente.

E os 9 milhões de Portugueses comem mal e não tem dinheiro para consulta de Nutrição  que o SNS apelida de “luxo”? 

Termino o meu desabafo com um lema ” Um Nutricionista para cada Centro de Saúde”.

Elisa Manero 

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